''Meu sorriso amarelo agora só representa as ironias que faço de minha pessoa. Não sei bem ao certo em que momento deixei de ser feliz, me esvai dos bons sentimentos e não virei má nem nada, mas sempre cética. Eu dei adeus a uma velha pessoa que era confortavelmente mais satisfeita. Satisfeita com o mundo, com os abraços e com as migalhas que me bastavam. Era tudo tão pouquinho, tão de leve e eu fui emagrecendo o coração com essa suposta dieta de tudo. Me sentia cheia com os pouquinhos que recebia e ainda ficava orgulhosa pensando que haviam pessoas que não recebiam nada e assim eram tristes, engano meu. As pessoas preferiam passar fome ao invés de ficar com o mofo e as sobras, as pessoas queriam um banquete... E eu sempre nos meios termos, meias emoções, meias ajudas que eu recebia. Eu mendigava na rua do amor, colocava meus olhos pra brilharem e me fazia de esfarrapada só pra receber sequer um trocado ou uma amostra de comida. E vivia assim, nem lá nem cá, nem faminta nem desejosa. E pra mim não era vergonha estar ali com meu cachorro magro, sentada esperando perto de algum bar. Com medo das maldades e com medo do frio. Meu banco de praça era seu ombro, nunca chegastes a ser o meu conforto e o lugar mais generoso, mas estavas ali quando eu precisava de um tempo...aliás, eu estava pronta prestes a chegar quando você precisasse. Não sei se pode chamar isso de carência ou de falta de amor próprio.
Minha dignidade ia de água a baixo quando eu te cedia alguns beijos, beijos vindos de uma boca mal alimentada e sedenta. Era vergonhoso pedir, era humilhante ficar, era triste chorar as noites que choviam e lavavam os meus olhos vermelhos. Dolorido era o peito que sempre estava a procura do que nem conhecia e não saberia reconhecer se encontrasse. Eu não sabia dizer quanto tempo eu vagava pelas ruas lendo as estrelas e olhando a lua, era eu e eu. Sempre eu. E com o tempo eu olhava para as unhas sujas de desamor, que cavaram tanto tempo um certo tipo de lama e uma sujeira absurda de alguém que tinha me retirado da minha casa e me colocado num terreno baldio. Eu estava perplexa com a maldade, com os maus, com toda a sensação que eu tinha, que me assustava mais do que as pessoas fumando e jogando as pontas de cigarro em cima de mim. Eu fazia de tudo para sair dali e só consegui quando me vi no espelho, era uma vitrine que eu passava todos os dias em frente e nunca notava. Foi quando eu levantei o rosto para ver toda a minha face suja e pela primeira vez tive vontade de limpá-la. A gente só se livra do que quer e para uma pessoa que vivia na mediocridade eu digo, se a gente não é escolhido ao menos a gente se escolhe, a gente tem que se escolher e querer se erguer.''
Esse texto é da (Thaís Oliveira - http://www.fotolog.com.br/t_oliveira)