terça-feira, agosto 28, 2012


A gente tem que se escolher...

''Meu sorriso amarelo agora só representa as ironias que faço de minha pessoa. Não sei bem ao certo em que momento deixei de ser feliz, me esvai dos bons sentimentos e não virei má nem nada, mas sempre cética. Eu dei adeus a uma velha pessoa que era confortavelmente mais satisfeita. Satisfeita com o mundo, com os abraços e com as migalhas que me bastavam. Era tudo tão pouquinho, tão de leve e eu fui emagrecendo o coração com essa suposta dieta de tudo. Me sentia cheia com os pouquinhos que recebia e ainda ficava orgulhosa pensando que haviam pessoas que não recebiam nada e assim eram tristes, engano meu. As pessoas preferiam passar fome ao invés de ficar com o mofo e as sobras, as pessoas queriam um banquete... E eu sempre nos meios termos, meias emoções, meias ajudas que eu recebia. Eu mendigava na rua do amor, colocava meus olhos pra brilharem e me fazia de esfarrapada só pra receber sequer um trocado ou uma amostra de comida. E vivia assim, nem lá nem cá, nem faminta nem desejosa. E pra mim não era vergonha estar ali com meu cachorro magro, sentada esperando perto de algum bar. Com medo das maldades e com medo do frio. Meu banco de praça era seu ombro, nunca chegastes a ser o meu conforto e o lugar mais generoso, mas estavas ali quando eu precisava de um tempo...aliás, eu estava pronta prestes a chegar quando você precisasse. Não sei se pode chamar isso de carência ou de falta de amor próprio.

Minha dignidade ia de água a baixo quando eu te cedia alguns beijos, beijos vindos de uma boca mal alimentada e sedenta. Era vergonhoso pedir, era humilhante ficar, era triste chorar as noites que choviam e lavavam os meus olhos vermelhos. Dolorido era o peito que sempre estava a procura do que nem conhecia e não saberia reconhecer se encontrasse. Eu não sabia dizer quanto tempo eu vagava pelas ruas lendo as estrelas e olhando a lua, era eu e eu. Sempre eu. E com o tempo eu olhava para as unhas sujas de desamor, que cavaram tanto tempo um certo tipo de lama e uma sujeira absurda de alguém que tinha me retirado da minha casa e me colocado num terreno baldio. Eu estava perplexa com a maldade, com os maus, com toda a sensação que eu tinha, que me assustava mais do que as pessoas fumando e jogando as pontas de cigarro em cima de mim. Eu fazia de tudo para sair dali e só consegui quando me vi no espelho, era uma vitrine que eu passava todos os dias em frente e nunca notava. Foi quando eu levantei o rosto para ver toda a minha face suja e pela primeira vez tive vontade de limpá-la. A gente só se livra do que quer e para uma pessoa que vivia na mediocridade eu digo, se a gente não é escolhido ao menos a gente se escolhe, a gente tem que se escolher e querer se erguer.''

Esse texto é da (Thaís Oliveira - http://www.fotolog.com.br/t_oliveira)
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